História do CongoEm 1856, quando havia comércio de escravos para o Brasil, na viagem do navio vindo da África nas imediações das praias de Nova Almeida, deu-se o naufrágio do navio, só restando 25 tripulantes. Estes, eram escravos que se salvaram agarrados ao mastro que se desligou do barco, abraçando e gritando pelo santo preto e pôr Deus que os salvassem, e este milagre eles receberam. Os tripulantes que receberam a bênção do santo negro se espalharam nas fazendas que existiam na época e nos engenhos de cana de açúcar em vários lugares do município da Serra, dentre eles: Putiri; Cachoeirinha; Hestes; Perinheiro; Pindaíbas; Muribeca; Queimado e lá viveram trabalhando para os senhores. Neste meio tempo eles lembraram que tinha uma promessa a pagar ao santo preto, criando uma banda de batuque ou banda de Congo feito com "oco de pau" e bambu, isso com permissão dos senhores, em outubro de 1862. A banda recebeu o nome do santo preto e depois vieram a saber, que era São Benedito. Eles residiam em propriedades diferentes, do município da Serra, mas o líder do grupo residia em Putiri e chamava-se Crispiniano da Silva. Com a criação da banda de congo, eles queriam completar as suas promessas, voltaram aos seus senhores em dia de descanso ou alforria e pediram licença para pagar as suas promessas. Os seus senhores atenderam o pedido e perguntou-lhes o que queriam desta vez, foi então que o escravo Cripiniano da Silva pediu-lhes que arranjassem a boiada de carro para que eles pudessem continuar suas promessas com a permissão dos seus senhores. Partiram para a mata, foram ao brejo acompanhados dos seus senhores, montados em seus corcorgis e ao chegar ao brejo escolheram uma árvore (guanandi), derrubaram, cortaram e colocaram em seus ombros, subiram a mata dando viva ao santo preto e ao chegar a frente do terreiro da residência de uns senhores, jogaram no chão. Então os senhores perguntaram o que iam fazer: responderam que arranjassem a permissão para colocar a boiada de serviço de canga com as correntes e atar ao madeiro com as cangas enfeitadas de flores silvestres e darem uma volta pela fazenda e nas residências dos senhores. E os senhores montados a cavalo em vigília, pensando que era um golpe de fuga, e assim fizeram acompanhados da banda de Congo e as famílias dos senhores, e os escravos perguntaram aos senhores, o que iam fazer agora, responderam com a sua permissão dos senhores, vamos preparar o madeiro e fazer o mastro. Fazer o mastro para erguer e levantar com a bandeira do santo preto o São Benedito, voltaram a perguntar pôr curiosidade o que faltava para completar a promessas de vocês, responderam que precisavam do carro de boi para fazer em forma de navio enfeitando de flores silvestres simbolizando o navio que naufragou e seus irmãos e companheiros que morreram afogados. Fizeram uma enorme corda de cipó trançado para puxar o navio com o Congo e as famílias dos senhores, e também seus companheiros e familiares de escravos, eles com o mastro pronto esconderam na fazenda dos senhores, e iniciaram a puxada do navio negreiro em volta, e pararam em frente da residência dos senhores. E foram apanhar o mastro e colocar dentro do navio e voltaram a dar outra volta em redor da fazenda com o mastro dentro do navio negreiro. Escolheram um lugar em frente a residência dos senhores, neste local abriram um buraco no chão, tiraram o mastro de dentro do barco, representando o navio negreiro que afundou, e puseram nos ombros e levantaram com a bandeira do Santo Preto, São Benedito com muita festa e vivas ao Santo Preto e São Benedito. Depois de uns dias voltaram a fazer um último pedido, de fazer a retirada do mastro com a bandeira de São Benedito para presentear aos seus senhores, e que eles providenciassem a construção de uma capelinha no mesmo lugar em que foi erguido o mastro de São Benedito, atendido os pedidos e construíram a capelinha no mesmo lugar e na mesma data do ano faziam a festa. Logo assim que foi criado as associações na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição na Serra, inclusive a irmandade foi a Serra na igreja filiar-se a irmandade de São Benedito como seu padroeiro, recebendo assim o nome de Congo São Benedito em Putiri, sob a direção e cuidados do escravo Crispiniano da Silva. Isso ocorreu há aproximadamente uns 120 anos. Com o falecimento do escravo Crispiniano em 1875, que já tinha uma mulher e um filho de apenas 8 (oito) anos de idade chamado José Maria da Silva, os companheiros resolveram passar ao garoto como prova de amizade e de direito, o comando do Congo. A decisão teve a aprovação de todos, continuando a mesma vontade e cadência do saudoso pai e filiado a irmandade de seu padroeiro na Serra por muitos anos, respeitado por todos com carinho e respeito chamavam de (tio) dos seus companheiros da velha guarda, Dionísio, Paranhos, Pedro Luiz Ceprodim, Mário Souza. E por todo apoio do saudoso Manuel de Deus Amado que organizava na Serra os festejos do Natal e São Benedito. A comissão participara de muitas festas, cantorias, sinos a badalar e assim era encerrado o mês de maio, o mês de Maria. Os meses de junho e julho era dedicado aos festejos juninos de Santo Antônio e São João, São Pedro e Sant'Ana, onde todo município da Serra era envolvido com as fogueiras e festejos. No mês de setembro, semana da Pátria, os colégios se preparavam para o sete de setembro da Independência do Brasil, com a tropa escoteira, o Clube de Cultura Bandeirantes, Lobinhos e todos os colégios do município da Serra e participação da banda de música local. Em outubro, logo após a reunião da igreja, tratava-se o mês e horário às sete horas da noite. Rezava-se, cantava-se em procissão com a imagem de Nossa Senhora do Rosário, acompanhado da banda de música. Em novembro, dia 1º na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, às 8 horas primeira e às 9 horas a terceira missa com comunhão geral. Dia 2 de dezembro dedicado a Finados e às 7 horas primeira missa e às 10 horas, missa de Finados no cemitério e logo após reunião na Igreja com as irmandades de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário, irmandade do Coração de Jesus, Coração de Maria, e do menino Jesus. Durante a reunião era escolhido de cada irmandade membros para formar a comissão dos festejos e no domingo seguinte depois da missa o vigário da paróquia anunciava os festejos e lhes entregavam as listas para arranjar donativos doados pelos devotos, e estes entravam em ação. O dia 7 e 8 de dezembro era dedicado a padroeira da cidade, faziam alvorada às 4 horas da manhã do dia 7 e a noite havia na igreja a véspera com cantigas a banda de música e o povo. No dia 8 de dezembro, dia da Padroeira, às 8 horas, missa da comunhão geral, às 9 horas missa cantada pelo coro e a orquestra musical e o povo, e ao meio os sinos da matriz davam sinais de festas com seus repiques e também se fazia leilão em benefício da festa. Às 17 horas, voltavam novamente e os sinos badalavam chamando o povo e a banda de música para a igreja dar início a procissão de São Benedito e a padroeira Nossa Senhora da Conceição, percorrendo as ruas da cidade acompanhada pelo povo e a banda de música. Participavam também todas as irmandades religiosas. Com a chegada a igreja, iniciavam-se os cânticos para a benção do Santíssimo Sacramento com participação ao povo com as campainhas, os sinos e música. E após o dia 8, dia de Nossa Senhora da Conceição, no 1º domingo era realizada a tradicional Cortada do Mastro de São Benedito. No domingo pela manhã o povo acordava mais cedo eufórico e na expectativa sobre o evento, perguntando uns aos outros e aos festeiros da época Sr. Basílio dos Santos, Antônio Corrêa da Vitória e Silva, Alvim Rocha, Agapito de Letilzer, Máximo Miranda, Eurico Miranda, Alvim Nascimento, João Rosa Machado e a resposta era sim com a presença do tradicional Congo São Benedito de Putiri. O povo ficava mais animado e satisfeito, atento ao Congo, onde os componentes eram recebidos com boas vindas, muita festa, fogos e oferta de ajuda. Estes se reuniam e iniciavam suas atividades em ritmo e cadência na batuta do saudoso (tio Zé), em direção a Igreja Nossa Senhora da Conceição para prestar as devidas honras ao seu padroeiro. E quando isto não acontecia, os festejos faziam sem os princípios de costume e prosseguia com as outras bandas de Congo que existiam na época, banda de música e o povo. Com a presença do Congo de Putiri eles entravam nas ruas da cidade com sua cadência e o direito de prestar as devidas honras a São Benedito e faziam um pequeno descanso enquanto aguardavam as ordens dos festeiros que neste intervalo o povo vinha visitá-lo, as boas vindas e aguarda-los, e os festeiros vinha cumprimentai-los, e dá início aos festejos logo após a chegada da banda de música e o povo em geral. Com os sinais de festa pelos sinos da matriz, os congos com seus batuques e a banda de música, tocando o tradicional (VAPO), seguia para o antigo caminho de Jacaraípe, hoje Bairro São Domingos, ao encontro do Sr. Adauto Moisés, que era o candieiro e o Sr. Manoel Ramos (Nininho) prontos para dar início aos festejos. O cortejo seguia em direção ao centro da cidade, seguindo a avenida ou Rua Dom Pedro II e a Avenida Getúlio Vargas, ou antiga Rua La Vem Um, até as proximidades do cine, na residência do saudoso Sr. Naly da Encarnação Miranda, que era delegacia de polícia. Neste local era feita uma parada em continências para continuar os festejos, seguindo de volta pela mesma Rua ou Avenida Getúlio Vargas, segundo e passando curvando enfrente a praça Dr. Pedro, seguindo a Rua Major Pissarra ou conhecida Rua do saudoso (Biluia), seguindo e passando o antigo largo, hoje Praça (João Miguel), seguindo e passando novamente na Praça João Miguel, iniciando a Rua Cassiano Castelo, a Praça João Dalmácio Castelo, a Praça Barbosa Leão ou praça da Matriz, fazendo uma pequena parada em frente a igreja em continência. Com os sinos a badalarem, sinais de festa e seguindo a Avenida Jones Santos Neves ou Caçaroca, o cortejo retornava a Rua Domingos Martins ou Rua de Baixo, saindo na Avenida Getúlio Vargas e finalmente tendo ponto final da Cortada do Mastro de São Benedito, encerrando a primeira parte dos festejos. E assim, os Congos, Bandas de Música, cavaleiros e o povo voltavam ao seu destino da origem. Não poderíamos deixar de lembrar que os enfeites nas cangas dos bois foram feitos há mais de 80 anos pela saudosa Sra. Ritinha Silvério. Visitas: 836 |
Veja mais em: INSTITUCIONAL |